sexta-feira, setembro 29, 2006

É d'hoje é...

Entrou no café directo ao balcão. O meridiano do cérebro, responsável pela gestão da gula, fixou-se naquele duchaise, aparentemente inofensivo. Para compor as coisas solicitou um café, que beberia sem açúcar, para amenizar as calorias.
Obteve de quem o atendia, uma piscadela de olho cúmplice e a informação de que o café estava já a sair mas que, com toda a certeza, não iria querer o tal, magnífico, duchaise.
Entretanto, o meridiano ainda estrebuchava e os canais por debaixo da língua já segregavam.
“Mas… humm… está na montra… humm… está reservado?… humm… vai consolar o meridiano de outro?… humm… é uma réplica de plástico…?”.
Observando a desilusão, o empregado deita então uma piscadela mais forçada acrescentando um sorriso comparsa, deixando à vista o amarelo da nicotina, os restos do seu próprio pequeno-almoço e a evidência da falta que faz um aparelho corrector. Tudo isto misturado com as suas verdadeiras intenções.
“Opps, então pode ser um pastel de nata”, flectiu ele na esperança de que, para além de serem do dia, o empregado fosse suficientemente seu “amigalhaço”.

A situação deixou-o com um dilema:
Passar a ir a outra pastelaria, onde não tinha “amigalhaços”, com todos os perigos inerentes à solta ou continuar a fomentar aquela “amizade” saudável (na sua verdadeira acepção), tendo o cuidado para nunca lhe escapar qualquer referência aos benefícios do uso regular de Sensodyne, contribuindo silenciosamente para as salmonelas de outros.
Decidiu aprender a fazer duchaises.