quarta-feira, outubro 18, 2006

Amanhã não me apanhas

Estava ali pendurada, caio, não caio. Impaciente, olhou uma e outra vez para o passeio que ficava cinco ou seis andares abaixo. Fixou-se na esquina da rua. Tanta demora, pensou. Será que não ouviu o despertador? Perdeu o comboio? Há outra vez greve do metro? Suspirou. Espreitou o relógio. Ia começar a contar os segundos quando… Lá vem ela. Atenta, procurou um pedaço de pele a descoberto. Nos últimos dias, tem vindo a esforçar-se para melhorar a pontaria. Mais roupa dificulta-lhe a vida. Hoje decidiu apontar ao pescoço. Fez um sorrisinho lacónico e arqueou o sobrolho direito. Tomou balanço. É agora, pensou. Largou-se, atingiu uma velocidade quase vertiginosa e ainda soltou um grito de vitória antes de atingir o alvo. Senti-a escorregar pelo pescoço. Arrepiei-me e, irritada, quis dizer-lhe: outra vez eu? Mas já era tarde. Malditas goteiras...