quarta-feira, outubro 25, 2006

«Cansei de ser sexy»

Quando apenas conhecia frases soltas de Nietzsche e algumas coisas que Zaratustra dizia (e muitas vezes, que bela seca foi!), tinha a presunção de considerar que aquilo que ele escreveu, era dirigido a pessoas como eu.
Um pouco mais tarde, e pelos mesmos motivos, tive ainda mais arrogância para o «liquidar».

Abrirmo-nos a ele constitui lidarmos com a nossa pequenez em quase tudo o que fazemos. Mas deverá significar a rejeição ao homem? Ou será que nessa rejeição ainda nos tornamos, como ele próprio vaticinou, ainda mais mesquinhos e pobres de espírito?

Leva-me isto a pensar que a crítica mais feroz é, muitas vezes, a forma mais fácil de escrever sobre algo que, antes, nunca se conseguiu escrever. Por incapacidade de expor o assunto ou até porque o assunto nunca terá chegado à cabeça…
É, cada vez mais, tão fácil criticar. A nossa aldeia global dá-nos matéria suficiente que, com a ajuda do maravilhoso e tecnológico copy-paste, transformamos em obras-primas pessoais.
Pelo menos até alguém encontrar a fonte (pesquisando bem, às vezes a própria «fonte» é um plágio).

E abrindo, mais uma vez, as portas a Nietzsche, eis que nos encontramos na era (será que a culpa é de Aquário?) em que todos nos detestamos e, ainda mais grave, nos detestamos a nós próprios. A escassez de ideias não tecnológicas, realmente inovadoras, provoca um sentimento generalizado de culpa, próprio e prévio à idade da razão.
Na prática, os dentes arreganhados que mostramos aos outros é um reflexo da nossa incapacidade de fazer melhor… de fazer a diferença… porque nos vemos ao espelho!

Penso que globalmente temos uma atitude de crianças, às quais deram ferramentas tecnológicas poderosíssimas e que ainda não sabem propriamente para que servem os respectivos botões (ou que só sabem depois de os experimentar).
É um facto que não estamos preparados para tanta modernidade e à frente do control panel sentimo-nos deuses, acabando por negar e aniquilar o Nosso.

Em 1882 ele disse: «Deus morreu!».